terça-feira, 11 de março de 2008

Ex-presidente da Casa da Moeda desdiz Itamar

Do blog do jornalista Josias de Souza:http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br

Chama-se Tarcísio Jorge o responsável pela impressão das primeiras cédulas de Real. Ocupava, 14 anos atrás, o posto de diretor de Produção da Casa da Moeda. Depois, tornou-se presidente da empresa. Localizado pelo blog, Tarcísio informou que as notas que inauguraram o Real trazem a assinatura de Fernando Henrique Cardoso porque era ele o ministro da Fazenda no momento em que as cédulas foram impressas.

A versão de Tarcísio desdiz o que dissera o ex-presidente Itamar Franco, em timbre de denúncia, numa entrevista aos repórteres Marcello D’Angelo, Durval Guimarães e Marcos Seabra. “Acabou-se cometendo até um desatino perante a Justiça Eleitoral, pois mesmo depois de deixar o cargo de ministro da Fazenda, o Fernando Henrique era quem assinava as primeiras cédulas de Real. E o mais grave é que eu fingi que não vi”, acusara Itamar.

Segundo o ex-presidente, Fernando Henrique, que deixara a pasta da Fazenda para concorrer à presidência da República, rubricara as notas de Real, “sem poder assinar”, porque “sabia que, sem o autógrafo, sem ele na cédula do Real, ele não ganharia” a eleição. Trata-se, segundo Tarcísio Jorge, de “uma maluquice”.

“A gente começou a trabalhar no Real numa fase em que ninguém sabia quando seria lançada a nova moeda”, recorda Tarcísio. “Em meados de 1993, fui chamado a Brasília, junto com o presidente da Casa da Moeda na época, que era o Danilo Lobo. Eu era gerente de Produção. Eu dirigia a fábrica. Nessa época, preparamos as matrizes para impressão, aprovamos os modelos com o Banco Central, encomendamos o papel. Foi uma correria danada. Cansei de trabalhar nos finais de semana.”

Tarcísio prossegue: “No início de 1994, pelo menos seis meses antes de o Real ser posto em circulação, começaram a ser produzidas as cédulas. Todas foram impressas enquanto Fernando Henrique Cardoso era ministro da Fazenda. Por isso a moeda trazia a assinatura dele no instante em que foi lançada.”

FHC trocara a pasta da Fazenda pelo palanque presidencial em março de 1994, quatro meses antes do lançamento oficial das cédulas de Real. Algo que, no dizer de Tarcísio Jorge, é “absolutamente irrelevante”.

Ele explica: “Isso de o ministro assinar as matrizes antes de as cédulas entrarem em circulação é um acontecimento corriqueiro. O Banco Central encomenda as cédulas com antecedência. Se há mudança de ministro, ele não joga as cédulas fora. Seria um absurdo. As notas trazem a chancela do minsitro que estava no posto quando elas foram impressas. É assim que a coisa funciona”.

Ainda hoje há em circulação cédulas de R$ 100 reais com o jamegão de FHC. De diretor de Produção, Tarcício Jorge foi promovido, depois da eleição presidencial de 1994, a presidente da Casa da Moeda. Deixou o posto meses antes do término do segundo mandato de FHC. Recoda que, à época era grande ainda o estoque de notas de cem.

Por que? Na época do lançamento do Real, o governo temia uma corrida aos bancos, lembra Tarcício. O receio mostrou-se infundado. Mas os efeitos dele tiveram vida longa. “O ceticismo fez com que o Banco Central encomendasse a impressão de um grande volume de notas de R$ 100, o equivlente a R$ 13 bilhões. Foram 130 milhões de cédulas. Até o início do governo Lula, em 2003, seguramente não foi impressa nenhuma nova nota de cem.”

Ao remontar os fragmentos da primeira campanha presidencial de FHC, a historiografia não deixou dúvidas quanto à utilização do Plano Real como escada para ascensão da candidatura tucana. Uma escada armada sob o topete do presidente de então. Porém, a julgar pelo que diz Tarcísio Jorge, Itamar terá de encontrar argumentos mais sólidos para escorar o seu arrependimento tardio.
Escrito por Josias de Souza às 01h03